O avanço da imunização contra a covid-19 contribui para a retomada do turismo e promove a economia criativa, sobretudo em ações relacionadas ao turismo cultural, tendo em vista a diversidade do país e a riqueza histórica presente em todas as regiões. Essa avaliação foi feita nesta segunda-feira (22) por especialistas, durante a 12ª etapa do ciclo de debates sobre o retorno pós-pandemia do turismo histórico, civil e cultural, promovidos pela Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) do Senado.
Presidente da CDR e proponente do debate, o senador Fernando Collor (Pros-AL) disse que a diversidade do povo brasileiro e a riqueza de sua história habilitam o Brasil a um turismo vibrante e robusto. Ao ressaltar que o país detém 23 patrimônios históricos mundiais, entre eles as cidades de Brasília e Paraty, Collor destacou que o avanço da vacinação favorece a retomada do turismo. Ele também disse que este é o momento oportuno para se refletir sobre os desafios da ampliação do turismo cultural.
Coordenadora-geral de Destinos Inteligentes e Destinos Criativos do Ministério do Turismo (MTur), Bárbara Rangel disse que, com a pandemia, surgiram tendências interessantes que antes não eram vistas no setor, como a maior priorização pelos turistas das questões relativas a biossegurança, higienização e limpeza de ambientes, viagens de carro a destinos próximos, nômades digitais e priorização de destinos isolados e ao ar livre, viagens com família, passeios virtuais, viagens "de última hora" e exigência de testes de vacinação, entre outras.
— Este é um cenário muito diferente dos últimos anos. O programa de retomada do turismo do Ministério do Turismo veio mitigar o efeito da pandemia. Houve também novas formas de incentivo para abertura de empresas, lançamento do selo de turismo responsável e seguro com mais de 20 mil empreendimentos, incentivo do turismo doméstico e de facilidade. O Brasil é um país muito rico em cultura. Temos 14 patrimônios históricos mundiais. E há vários tipos de turismo cultural, entre eles o cívico, o religioso, o místico, o esotérico, o étnico, o cinematográfico, o de games, o gastronômico, o enoturismo, o ferroviário e, por fim, o turismo criativo, feito por pessoas que querem viver experiências criativas em diversos campos. O turismo cultural é a melhor forma de promover a nossa forma de viver e ter um papel educativo — afirmou ela.
Entre as ações principais em favor do turismo cultural implantadas pelo ministério, Bárbara citou a implantação do Caminho dos Jesuítas; a consolidação do turismo cívico em Brasília, já considerada a oitava cidade mundial mais “instagramável”; a criação do Programa Nacional de Turismo Gastronômico; e a formação da rede brasileira das cidades criativas.
Secretária de Turismo do Distrito Federal (Setur/DF), Vanessa Mendonça declarou que o governo local trabalha sob um novo olhar do turismo, como forma de ressignificar a cidade em prol de novas atividades turísticas que contemplem todo tipo de viajante. Segundo ela, Brasília hoje é um polo para o desenvolvimento da economia criativa no Brasil, sobretudo nos setores de cinema, artesanato, design e astronomia, entre outros. Vanessa disse ainda que o governo local está investindo no turismo cívico e pedagógico e no lançamento de rotas turísticas — como a rota da cultura, a rota da diversão, a rota do cerrado, a rota cívica, a rota arquitetônica, a rota náutica, a rota religiosa, a rota do enoturismo, a rota rural, a rota dos ipês e a rota do cavalo.
Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/AL), Melissa Mota Alcides ressaltou que existem outras possibilidades de turismo em Alagoas que vão além das praias, como o programa relacionado ao complexo arqueológico no semiárido na comunidade de Nova Esperança, no município de Olho D’Água do Casado. Ela disse que o programa está aliado à preservação de sítios arqueológicos, com o envolvimento da comunidade local na valorização do patrimônio cultural. A ação contribui, segundo Melissa, para a geração de emprego e renda em uma localidade com índices de desenvolvimento muito baixos.
— Buscamos ações que visem à sustentabilidade de todo esse complexo, uma interação com a comunidade para conservação dos bens para futuras gerações. Fizemos a implantação de infraestrutura para visitação dos sítios arqueológicos, onde deverão ser expostos os produtos produzidos pela própria comunidade, um programa de educação patrimonial e um programa de fomento à economia criativa.
Chefe do Núcleo de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Carla Janne Farias Cruz declarou que o turismo, enquanto estímulo à economia local, deve ser fomentado, e que as instituições museais precisam ser fortalecidas, tendo em vista a falta de previsibilidade orçamentária e o número insuficiente de profissionais para atuação no setor.
Carla destacou que os museus investiram em programas virtuais durante a pandemia e vários reabriram em outubro com a adoção de protocolos de segurança. Ela informou que o Ibram mantém 30 museus sob sua administração, majoritariamente na região Sudeste, que preservam mais de 290 bens culturais, reúnem mais de 1.300 profissionais e receberam 1,5 milhão de visitantes em 2019. No geral, o Brasil conta com 3.879 museus cadastrados, que reúnem mais de 70 milhões de bens culturais do país.
— O grande desafio do momento é manter os museus abertos, funcionais e vivos, a fim de garantir respeito às memórias diversas e à diversidade de acesso.
Segundo Carla, o turismo cultural representa quase 40% do turismo mundial. Ela também disse que, entre março e abril de 2020, "no auge do confinamento mundial", 95% dos museus permaneceram fechados, dos quais até 13% podem não voltar a reabrir.
— O fechamento dessas instituições leva inevitavelmente ao corte de pessoal e à perda de emprego. O impacto do ponto de vista econômico é preocupante. Os trabalhadores dos setores criativos também foram duramente atingidos — ressaltou ela.
Diretor artístico da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Mauro Munhoz afirmou que a sustentabilidade do turismo é uma questão fundamental para o setor.
— A grande questão é justamente olhar para o turismo de uma forma em que ele não seja predatório. O turista se atrai por destinos que ganham atração por determinados valores. E, muitas vezes, se não há uma articulação de diversas instituições governamentais e não governamentais com representantes e habitantes locais desses destinos, há uma grande chance de o turismo erodir os valores que são a razão própria dos atrativos.
Munhoz disse ainda que a Flip inovou no sentido de ser uma manifestação cultural em torno da literatura e das artes, e não em torno do mercado do livro e dos produtos culturais, que também são atividades importantes.
— Há diferença entre produto cultural e manifestação cultural. Para a gente ter produto de valor, precisa cuidar das manifestações culturais. O projeto da Flip surgiu nesse ambiente muito singular; essas manifestações culturais foram preservadas um pouco ao acaso, pois Paraty passou 150 anos isolada das rotas de acesso. A gente ficou muito feliz de, em sete ou oito anos, conseguir que essa manifestação cultural, pois ela é mais que um evento, fizesse essa articulação entre o universo do mundo literário com essa realidade local.
Antes de encerrar o debate, Fernando Collor destacou que a Lei Rouanet (Lei 8.313, de 1991) encontra-se em plena vigência. Ele afirmou que essa lei vem sendo utilizado, desde então, para a melhoria do padrão cultural e artístico do país, além de contribuir, por exemplo, para a requalificação da cidade de Paraty para que ela pudesse dar sustentação à Flip.
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