O Grupo Parlamentar da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica promoveu um painel, na tarde desta segunda-feira (29), para debater os resultados da COP 26 e os desafios para a diplomacia parlamentar em assuntos relacionados à Amazônia. Os debatedores apontaram avanços da COP 26, mas disseram que os parlamentos nacionais ainda têm muito trabalho a fazer em favor da preservação ambiental e do controle das mudanças climáticas.
O presidente do grupo, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), lembrou que a COP 26 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) foi realizada entre 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, em Glasgow, na Escócia. A Conferência teve como objetivo estimular o combate às mudanças climáticas com ações conjuntas entre os países. Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas e ativistas participaram do encontro, entre eles, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Segundo Nelsinho Trad, o encontro permitiu a busca de uma agenda de consenso em torno da administração das mudanças climáticas.
— Nessa agenda, sob o olhar atento da opinião global, a Amazônia ocupou lugar de destaque — afirmou o senador.
A secretária-geral da Organização do Tratado da Cooperação Amazônica (OTCA), Maria Alexandra Moreira, apontou que a COP 26 reconheceu que a Bacia Amazônica tem ponto de destaque para as decisões globais estratégicas sobre as mudanças climáticas. Ela lamentou a realidade da degradação da floresta e pediu a união dos países da região amazônica em favor da preservação ambiental.
— Este grupo parlamentar tem um papel fundamental, pois a agenda da floresta pode demonstrar uma liderança prática em favor da região — registrou a secretária.
Na visão do deputado Airton Faleiro (PT-PA), o grupo parlamentar é importante por trabalhar contra as mudanças climáticas, que são uma ameaça à humanidade. Ele disse que não se discute equilíbrio climático sem discutir a Amazônia. Para o deputado, a floresta nunca esteve tão ameaçada quanto no atual momento. Faleiro citou como exemplo as balsas de garimpo ilegal que estavam no Rio Madeira. Em uma operação no fim de semana, a Polícia Federal apreendeu 131 dessas balsas ilegais.
— Precisamos de uma reação global, que incentive os órgãos de fiscalização para atuar. Precisamos dialogar com o bolso, porque dialogar com o coração não tem dado resultado — registrou Faleiro.
O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) afirmou que a busca por “ambições climáticas” tem marcado as conferências globais sobre o clima. Na sua opinião, a COP 26 não resolveu os problemas, mas indicou alguns avanços. Ele, que já foi presidente da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, destacou os acordos bilaterais que foram firmados durante a COP 26 entre vários países. Para o deputado, o controle do desmatamento, a troca da matriz energética e a mudança para veículos elétricos são medidas que podem ajudar no controle das mudanças climáticas.
— As mudanças climáticas estão ocorrendo de forma muito rápida. O Brasil corre o risco de ser seriamente impactado — alertou o deputado, ao citar as produções agrícolas.
Agostinho ainda ressaltou que a falta de consciência sobre o meio ambiente e as mudanças climáticas pode trazer consequências econômicas para o país. Segundo o deputado, o Brasil já tem sofrido com a atual situação, pois alguns investidores têm recusado o país, por conta do pouco compromisso ambiental. Ele disse que as autoridades precisam trabalhar com foco na consciência ambiental e na produção sustentável.
— O Congresso Nacional pode ajudar bastante. Podemos buscar parcerias e soluções nos países vizinhos. Temos um grande desafio — declarou Agostinho.
Para Manuel Pulgar Vidal, ex-ministro do Meio Ambiente do Peru, a COP 26 já contabilizou alguns êxitos. Ele disse que a reunião sinalizou um consenso sobre uma visão coletiva na defesa de ações de controle da temperatura global. De acordo com Vidal, a discussão em torno do meio ambiente é também um debate social e uma reflexão econômica. Ele também disse perceber que os jovens já entendem, de forma convicta, a importância da questão climática para as futuras gerações. Para Vidal, os países amazônicos precisam de compromisso contra o desmatamento e pelo uso de recursos tecnológicos para a preservação da floresta.
— A COP 26 não foi suficiente, mas nos levou a uma direção correta. Reconheceu o papel que tem a natureza para enfrentar as alterações climáticas — destacou o ex-ministro.
Alzira Rodriguez, deputada da Bolívia, manifestou preocupação com a preservação da floresta. Segundo a deputada, o combate às mudanças climáticas é um benefício a todo o planeta. Henry Correal, deputado da Colômbia, afirmou que é importante trabalhar para a preservação dos povos indígenas e da produção sustentável, como forma de diminuir os impactos das mudanças climáticas. Isabel Maria Enriquez, deputada do Equador, citou o presidente Jair Bolsonaro, ao lamentar o fato de alguns presidentes não terem comparecido à COP 26.
O debate foi realizado de forma interativa, com a possibilidade de participação popular por meio do portal e-Cidadania. Fernanda Carvalho, do Rio de Janeiro, disse que aparentemente a imagem do Brasil não é positiva no cenário mundial, em parte por conta das questões ambientais. Elinádia Targino, de Alagoas, e Fred Almeida, do Pará, perguntaram sobre a atuação do Brasil na COP 26. Em resposta, o deputado Rodrigo Agostinho disse que o Brasil mudou o discurso na COP 26, o que seria positivo. Ele disse, no entanto, que é preciso mudar a prática e citou que o desmatamento aumentou muito no país nos últimos três anos.
O Grupo Parlamentar da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica foi criado em março de 2021 para dar suporte ao Parlamento Amazônico e viabilizar a integração entre as Casas parlamentares dos países ligados à Floresta Amazônica. O colegiado também pode manter relações culturais e de intercâmbio, bem como cooperação técnica, com entidades nacionais e estrangeiras. O foco do grupo é nas questões climáticas e na preservação da região amazônica.
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