A importância cultural das paneleiras de Goiabeiras, do Espírito Santo, foi reconhecida, nesta segunda-feira (13), pelo Senado, em uma sessão especial conduzida pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES). A sessão fez homenagem aos 19 anos de registro de condição de patrimônio imaterial, do trabalho das mulheres que fabricam artesanalmente as famosas panelas de barro.
O processo de produção no bairro de Goiabeiras Velha, em Vitória, capital do Espírito Santo, emprega técnicas tradicionais, de origem indígena e matérias-primas provenientes do meio natural. A atividade, eminentemente feminina, é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário.
Contarato, autor do requerimento para a sessão, homenageou o ofício das paneleiras de Goiabeiras, bairro da capital Vitória, que foi o primeiro bem cultural brasileiro registrado como patrimônio imaterial no Livro de Registro dos Saberes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
— Quero parabenizar essas mulheres aguerridas e guerreiras, às vezes são mulheres sofridas que mantêm suas vidas com tanta dignidade, é um ofício que resgata a dignidade das mulheres. Hoje eu me sinto extremamente privilegiado por ter proposto esta sessão. Eu quero me colocar à disposição de vocês, no que eu puder, para divulgar, estimular, incentivar a cultura das paneleiras do Espírito Santo— disse o senador.
A representante da Secretaria de Estado da Cultura, do Espírito Santo, Patrícia Bragatto Guimarães, agradeceu a oportunidade de participar da homenagem e declarou que as paneleiras de Goiabeiras “são verdadeiras riquezas culturais” do estado Espírito Santo.
— Elas são merecedoras de muitas homenagens por manterem vivo nosso patrimônio cultural imaterial tão importante. Salvaguardar esse ofício é defender a ancestralidade dos nossos povos originários, mas é também defender o protagonismo feminino. As paneleiras de Goiabeiras dão uma aula de associativismo, de coletividade e muita liderança feminina. Elas preservam os saberes, sustentam a própria família e nos enchem de orgulho por esse trabalho incrível que desenvolvem há centenas de anos — destacou Patrícia.
A Presidente da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, Jecilene Correa Fernandes, e Berenícia Correa Nascimento, ex-presidente da mesma associação, enfatizaram a importância da homenagem.
— Até hoje, nós nunca tínhamos recebido uma homenagem. Nós somos reconhecidas em todo o Brasil como paneleiras, pelas panelas do Espírito Santo, mas alguém chegar até nós e nos homenagear nunca aconteceu. Estamos muito felizes pelo senhor senador ter se lembrado de nós, e que outros, como o senhor, possam vir fazer alguma coisa, lembrar também que existem as paneleiras de Goiabeiras.
A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Elisa Machado Taveira, ressaltou a fabricação artesanal das panelas de barro como o primeiro bem cultural registrado patrimônio imaterial no Livro dos Saberes em 2002.
— Eu, como capixaba, gosto de falar desse orgulho de estar aqui representando no Iphan o meu estado e de ter esse primeiro bem cultural reconhecido. É importante ressaltar que as panelas de barro são ícone da gastronomia capixaba, associado à identidade local, e que contribuem para o desenvolvimento de atividades turísticas e econômicas do Estado. Assim, o momento que acontece agora, esta sessão especial para homenagear essas mulheres guerreiras, é de grande relevância para esse bem cultural.
Beatriz Lindenberg, especialista em Literatura Brasileira Contemporânea e Diretora do "Griôs de Goiabeiras", documentário que mostra o dia a dia e a cultura das mulheres que trabalham com o barro, agradeceu a oportunidade de apresentar o documentário na sessão.
— Esse documentário foi produzido com as paneleiras de Goiabeiras, muito especialmente com as paneleiras de quintal. Foi um trabalho de quase um ano de convivência em que eu fui muito bem recebida. Pude entender melhor como se dá esse processo de construção de um patrimônio imaterial, de um saber tradicional, que são essas camadas de tempo e esse saber que vai se construindo nos quintais e na coletividade ao longo do tempo, ao longo de muitas gerações.
A Senadora Zenaide Maia (PROS-RN) na ocasião cumprimentou as paneleiras e relembrou sua criação.
— Minha mãe era paneleira, mas não fazia panelas para vender porque não tinha tempo, por ter que criar 16 filhos, mas havia pessoas da minha família que vendiam. Então é um orgulho imenso poder participar da homenagem e parabenizar a todos vocês, que têm orgulho da sua profissão, que vocês realizam com maestria, que proporciona o alimento para suas famílias. Vocês só nos orgulham, paneleiros; não tenham dúvida disso. Parabéns a todos vocês!
Por Ana Paula Marques com supervisão de Patrícia Oliveira.
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