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Medicina fetal: especialidade permite operar bebês ainda na barriga da mãe

Evento apresentará para a comunidade científica as últimas pesquisas da área da medicina fetal.

22/03/2022 às 09h50
Por: Alessandro Ferreira Fonte: Agência Dino
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Foto: Reprodução
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A cirurgia fetal é uma especialidade médica recente e, por isso, pouco conhecida, mas que está em franco desenvolvimento. De fato, hoje já é possível realizar procedimentos complexos por via endoscópica ou por abordagem habitual, protegendo a mãe e garantindo a sobrevida do bebê. A cirurgia fetal está indicada no tratamento de determinadas malformações congênitas que ameaçam a vida ou que podem provocar sequelas graves no bebê. Nesses casos, a intervenção cirúrgica pode ser tanto diagnóstica quanto curativa, pois pode retardar o desenvolvimento da doença até o nascimento para que, então, possa ser realizado o procedimento cirúrgico definitivo e mais adequado.

Para debater a temática, Florianópolis será palco do IV Simpósio Internacional de Medicina Fetal e o I Encontro Internacional de Medicina Fetal, reunindo especialistas em medicina fetal e nomes nacionais e internacionais dos Estados Unidos, Bélgica, França e Reino Unido. Toda a temática pode ser conferida no site www.simposiofetalfloripa2022.com.br. Destaque para temas importantes para o bom desenvolvimento e evolução da saúde do feto e as intercorrências gestacionais como prematuridade, pré-eclâmpsia, restrição do crescimento fetal, cirurgia fetal, entre outros assuntos. Essas anomalias são detectadas no feto por ultrassonografias, e geralmente, são obstruções das vias urinárias, dilatação das válvulas cardíacas, tumores e obstruções pulmonares e gravidez múltipla com fetos que compartilham a mesma placenta e defeitos abertos na coluna.

O diagnóstico antecipado de alterações nos sistemas fetais evita que prejudiquem o feto e se agravem com o tempo de gravidez de forma que piorem a qualidade de vida do bebê. O Brasil hoje é referência em tratamento fetal em razão das boas condições para o desenvolvimento de técnicas e procedimentos. Especialistas afirmam que este realmente é o momento mais emocionante da história pra se trabalhar com medicina fetal. Quando é possível identificar o problema no útero cedo o suficiente, é possível tentar salvar os bebês.

Os especialistas se concentram na saúde do bebê ainda dentro da barriga da mãe, principalmente para identificar más formações. O Brasil é muito bem-visto internacionalmente quando se fala em tratamento fetal e tem condições boas para desenvolver técnicas e mostrar bons resultados. O médico Fabio Peralta é responsável pelo setor de Medicina Fetal do Hospital Pro Matre Paulista, do Hospital Santa Maria, do CETRUS, além de coordenador do programa de cirurgia fetal do Hospital do Coração e acaba de publicar um estudo de repercussão mundial que demonstra o impacto da idade gestacional no momento do reparo do disrafismo espinhal fetal, ou seja, de mielomeningocele. Os operados no início do intervalo gestacional de 19,7 a 26,9 semanas apresentaram maior probabilidade de caminhar com ou sem órtese, o dado impressiona: são 63,76% as estatísticas de sucesso. O estudo engloba um grupo de 69 bebês submetidos à intervenção intraútero com avaliação neurológica formal após 2,5 anos de idade.

Outro profissional que vem contribuindo para o desenvolvimento da área é norte-americano Rubens Quintero, diretor do The Fetal Institute, de Miami (EUA). Reconhecido internacionalmente na área de terapia intervencionista fetal e no desenvolvimento de técnicas e equipamentos, Quintero ministrará palestra sobre transfusão feto-fetal: diagnóstico e tratamento.

O professor das disciplinas de ginecologia-obstetrícia na René Descartes Faculdade de Medicina da Universidade de Paris, na França, Yves Ville, é outro convidado internacional do evento. O francês é diretor do Departamento Médico-Universitário de Doenças Congênitas e Anomalias do Desenvolvimento (Micado) do GHU Paris-Centre, Hospital Necker-Enfants Malades. Unanimidade mundial na área de terapia e medicina fetal, Ville abordará o tema sobre controvérsias no tratamento da TFF no estágio I e sequência TRAP.

Outro convidado internacional de destaque é o professor PhD em Ciências Médicas, Jan Deprest, titular e diretor clínico do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade de Leuven, na Bélgica, e renomado pesquisador na área de desenvolvimento em cirurgia fetal. Merece destaque na programação a palestra do professor na Universidade do Arizona e Doutor de Imagem Fetal do Phoenix Hospital, nos EUA, brasileiro e natural de Santa Catarina, Luiz Flávio Gonçalves, atua como radiologista pediátrico, com foco em ressonância magnética, tomografia computadorizada e ultrassom e anomalias fetais complexas. Outro pesquisador que estará no evento é Kypros Nicolaides, pioneiro da cirurgia fetal e suas descobertas revolucionaram a área. Seu trabalho inovador em cirurgia endoscópica a laser é usado para tratar a síndrome de transfusão de gêmeos, uma condição pré-natal com risco de vida.

Outro tema que vem ganhando espaço na medicina fetal é a área de cardiopatia fetal. Marina Zamith, doutora e mestre em ciências da saúde pela UNIFESP, também estará no evento trazendo as principais descobertas da especialidade. Estima-se, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que cerca de 130 milhões de crianças no mundo tenham algum tipo de cardiopatia congênita. Uma relação de um caso a cada cem nascimentos, segundo a American Heart Association, chegando a 1,35 milhão de doentes por ano. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, são dez casos a cada mil nascidos vivos, estimando em 29 mil o número de crianças que nascem com cardiopatia congênita por ano e cerca de 6% delas morrem antes de completar um ano de vida. Na apresentação grave da doença após o nascimento, ela pode ser responsável por 30% dos óbitos no período neonatal. Por isso, diagnosticar precocemente é o fator principal para que a criança cardiopata possa receber o atendimento correto e no tempo necessário.

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