O armazenamento de dados na nuvem trouxe a sensação de que se pode guardar informações e recordações infinitamente e acessá-los quando quiser. Com essa perspectiva, as pessoas se tornam acumuladoras digitais. Passa-se a guardar muitos e-mails, fotos e vídeos que raramente são revisitados, com a certeza de que poderão ser encontrados a qualquer momento.
Os arquivos ficam guardados em um HD que pode estar em qualquer lugar no mundo, a milhares de quilômetros de distância, e podem ser acessados por meio de servidores que fazem a comunicação dos dispositivos pessoais com data centers a qualquer momento. Esses centros de armazenamento de dados possuem alto nível de segurança, onde quer que estejam.
Apesar de a tecnologia ter se tornado acessível para muitos de nós há relativamente pouco tempo, o termo nuvem já era usado desde a década de 1970. Era uma espécie de metáfora para se referir à Internet. Em pouco tempo, se inseriu no cotidiano de todos nós. Difícil encontrar alguém que não use serviços como Google Drive, o iCloud, o One Drive ou o Dropbox, entre vários outros.
A questão que já está afligindo alguns – e chegará aos demais mais cedo ou mais tarde, é justamente o fato de que, embora a nuvem dê a ideia de algo ilimitado, os data centers são estruturas físicas e, portanto, finitas. Compreender que a nuvem é um recurso finito incapaz de absorver quantidades exponencialmente crescentes de informações (com custo relativamente baixo) é um choque.
E essa verdade inconveniente chega para muitos com um aviso de seu provedor, ao ser informado de que está próximo de atingir o limite de armazenamento em sua conta, seja por meio do serviço gratuito ou pago. Geralmente o alerta vem com uma solução relativamente simples: começar a pagar ou pagar mais para aumentar sua capacidade de armazenar. E aí há outra questão: como os custos são relativamente baixos, a tendência é aceitar a oferta e seguir acumulando. Mas até quando?
Conceito de diretórios, pastas e arquivos está se tornando obsoleto
No início dos anos 2000, a capacidade de armazenamento dos serviços de e-mail era de em média 10 MB. Quando o Google lançou o Gmail, em 2004, a conta oferecia até um gigabyte gratuito, 100 vezes mais do que Yahoo! e Hotmail. Em uma década, a capacidade de armazenamento chegou a 15 gigabytes. Em 2020, o Google Fotos guardava mais de 4 trilhões de fotos, com 28 bilhões de novas fotos e vídeos sendo acrescentados a cada semana.
Sem a limitação física do filme fotográfico e dos custos de revelação, passou-se a registrar qualquer coisa em imagens que, mesmo quando o fazemos para atender uma necessidade específica, as deixamos na nuvem para podermos acessar caso seja necessário no futuro. Essa possibilidade e o fato de ser barato faz com que tudo fique guardado.
Com a quantidade de fotos, e-mails e arquivos acumulados, prefere-se evitar até mesmo pensar em ter que organizar ou diminuir esse verdadeiro depósito de memórias. Contribui para isto também a facilidade proporcionada por eficientes recursos de pesquisa com os quais consegue-se achar o que se precisa eventualmente, mesmo que não estejam organizados. Até mesmo o conceito de diretórios, pastas e arquivos está se tornando obsoleto.
O choque da finitude do espaço que é ocupado na nuvem exigirá de cada um uma reflexão sobre a relação e o gerenciamento que é feito das informações, dos dados e dos registros da vida.
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