A Comissão de Relações Exteriores (CRE) recebeu, nesta quarta-feira (6), o encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, que falou sobre a situação do país com a invasão promovida pela Rússia. Os senadores da comissão avaliaram que a Ucrânia está sofrendo as consequências de uma postura expansionista de países ocidentais contra a Rússia.
A presidente da CRE, senadora Kátia Abreu (PP-TO), destacou o crescimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança político-militar que inclui os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Para Kátia Abreu, a adesão à Otan de países vizinhos colocou pressão sobre a Rússia, que reagiu de modo injustificável. A senadora lamentou que a Ucrânia seja “bucha de canhão” desse conflito geopolítico.
— É um cerco. A Otan avança instigando onça com vara curta. Será que isso é querer paz? Mas a Rússia perdeu todo o argumento quando deu o primeiro tiro. Não há inocentes nessa história, só a Ucrânia — afirmou.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) também criticou a posição da Otan e pediu fortalecimento do papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na resolução do conflito. Amin congratulou o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, que cobrou atuação do Conselho de Segurança da ONU. Ao mesmo tempo, rebateu uma afirmação de Anatoliy Tkach, que disse que a Otan tem como principal objetivo defender seus membros.
— A Otan não é um organismo defensivo. É para atacar, ameaçar e fazer guerra. Ela usa os outros países. Tem sede na indústria armamentista. Quanto mais Otan, menos ONU — argumentou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou que a Otan foi criada no início da Guerra Fria, quando o mundo se polarizou entre as zonas de influência dos Estados Unidos e da União Soviética, e questionou o motivo de a aliança ainda existir se a configuração global se alterou.
— Me parece anacrônica a existência da própria Otan. Não tem sentido a existência de um tratado bélico-militar baseado na Guerra Fria. Temos uma nova dinâmica. A geopolítica da II Guerra Mundial já foi superada — afirmou.
Tkach afirmou que a Ucrânia tinha intenção de se juntar à Otan desde 2008 e que a maioria da população é favorável a isso, mas que não há nenhuma perspectiva de que aconteça. Ele explicou que o país quer que um tratado internacional entre os países do Conselho de Segurança garanta a segurança do território ucraniano, e que as tropas russas recuem para as posições que ocupavam antes da invasão.
Anatoliy Tkach afirmou que o principal objetivo da invasão russa é o “extermínio” da nação, da cultura, da história e da identidade dos ucranianos. Segundo ele, a Rússia apresentou ao mundo pretextos falsos, mas a intenção real era a instalação em Kiev de um governo “leal” a Moscou.
O diplomata disse que há mais de 4 mil denúncias de crimes de guerra por parte do exército russo, e que mais de 40 países já apoiam uma ação no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade. Tkach relatou a situação dos ucranianos que vivem nas áreas invadidas, bem como dos refugiados.
— A situação humanitária continua a se deteriorar. Os alvos de ataques são jardins de infância, escolas, postos de combustíveis e hospitais. Quase 7 mil edifícios residenciais já foram destruídos. As perdas civis [da Ucrânia] superam as militares. 13 milhões de ucranianos precisam de assistência humanitária. Como [os russos] não conseguiram a vitória, adotaram o terrorismo — informou.
Os senadores manifestaram solidariedade com a população ucraniana e defenderam que o Brasil adote uma posição clara de condenação às agressões. Randolfe Rodrigues responsabilizou o presidente russo, Vladimir Putin, por “genocídio” e disse que o país é uma ditadura.
— As cenas que temos visto são provas de que Putin se equipara aos piores criminosos de guerra da história — afirmou.
O emissário ucraniano disse, ainda, que o exército russo está se reagrupando para novas ofensivas, e que há mobilização de recrutamento na Rússia.
Os senadores Kátia Abreu e Esperidião Amin manifestaram preocupação com os impactos econômicos da guerra para o mundo. Eles lembraram que o Brasil é um grande comprador de fertilizante russo e de trigo ucraniano. Segundo Kátia, a produção agropecuária brasileira pode cair em 50% sem o acesso a esses insumos, o que teria reflexos globais.
Tkach comentou que a guerra já derrubou o PIB ucraniano em 35% e que estimativas apontam um prejuízo de 10 bilhões de dólares no primeiro mês da guerra. Também segundo ele, as forças russas estão destruindo equipamentos agrícolas e o bloqueio dos portos ucranianos no Mar Negro tem impedido as exportações.
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