Uma pesquisa do Instituto Ayrton Senna com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo explicitou o forte impacto que a pandemia, e o consequente isolamento social, tiveram na condição sociopsicológica da maioria dos estudantes. A pesquisa foi apresentada nesta segunda-feira (30) na subcomissão da Comissão de Educação (CE) que avalia o impacto da pandemia no setor. Coube à gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, psicóloga Silvia Lima, detalhar os dados.
A pesquisa ouviu 642 mil estudantes em todo o estado de São Paulo, do 5º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. O estudo mostra que 70% dos estudantes relataram quadros de depressão ou ansiedade quando foram consultados a partir do retorno ao ensino presencial.
— O levantamento indica que esses estudantes precisam ser olhados. É um número muito grande e significativo. Também temos relatos dos próprios professores que estão sendo impactados por todos os problemas da pandemia. Então estamos trabalhando com as secretarias estadual e municipais em estratégias de acolhimento pós-isolamento social, além da recuperação da aprendizagem — disse Silvia Lima, deixando claro que as estratégias são baseadas em evidências científicas.
A pesquisa mostra que 33% dos estudantes dizem hoje ter dificuldades de concentração sobre o que é transmitido em sala de aula; outros 18,8% disseram se sentir "totalmente esgotados e sob pressão"; 18,1% disseram "perder totalmente o sono devido às preocupações" e 13,6% relataram "a perda da confiança em si mesmo". Além disso, 1/3 dos alunos se autoqualificou como "pouquíssimo focados".
— É mais uma pesquisa que explicita que o desenvolvimento socioemocional é uma mola propulsora para a aprendizagem e outras conquistas ao longo da vida. Deixa claro a importância direta das competências socioemocionais para o aprendizado e seu impacto em outros aspectos que afetam a aprendizagem indiretamente, como a saúde mental, violência e as estratégias de aprendizagem — explicou Silvia Lima.
A gerente pedagógica do Instituto Sonho Grande, Franci Alves, também apresentou projetos desenvolvidos em parceria com secretarias estaduais focados no desenvolvimento de competências socioemocionais. Para ela, é necessário o envolvimento de toda a comunidade escolar e do seu entorno para apoiar os estudantes.
— Não tem mais como falarmos na recuperação da educação no pós-pandemia sem olhar para a educação socioemocional. A educação socioemocional precisa estar na vivência e no cotidiano da escola, desde o professor, o estudante, a equipe gestora, o porteiro. Todos precisam ter o olhar empático e estarem comprometidos. Visitamos escolas e vemos o quanto os jovens estão inseguros, despreparados, fragilizados. É preciso um investimento com olhar sensível para além da questão cognitiva, para a questão também da educação socioemocional, não só do estudante, mas de toda a escola. Se o professor não tiver trabalhado sua educação socioemocional, ele não consegue apoiar o estudante — disse.
A audiência foi presidida pela senadora Zenaide Maia (Pros-RN), que elogiou o trabalho dos dois institutos. Falando também como médica, ela disse que o Brasil também precisa valorizar e priorizar mais o desenvolvimento socioemocional nas escolas.
— A ciência mostra que as tecnologias são importantes, mas não são tudo. Inclusive há estudos comprovando casos de crianças e adolescentes que podem crescer cognitivamente, mas a parte socioafetiva deixa muito a desejar. A Sociedade Brasileira de Pediatria pede para botar o máximo possível a criança na creche, porque num instante ela evolui e começa a respeitar o espaço dos outros, a convivência é essencial. Enfim... educação nunca foi despesa, é um investimento — disse a senadora.
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