As hepatites virais são infecções que atingem o fígado e causam alterações de todos os tipos, que podem se agravar para cirrose e até câncer. No entanto, podem ser evitadas, tratadas e quase sempre curadas. Sendo um grave problema de saúde pública no Brasil, na maioria das vezes não apresentam nenhum sintoma. Mas, quando se manifestam, podem aparecer como cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.
O médico do Núcleo Henfil da Secretaria Municipal da Saúde (Semus) e especialista em Medicina Tropical, Alexandre Janotti, explica mais sobre as hepatites virais mais importantes. Segundo ele, as hepatites assemelham-se na apresentação aguda, porém diferem-se na forma de prevenção, de transmissão, de testagem para diagnóstico e tratamento.
O profissional explica que a hepatite A é causada pelo vírus HAV e como sua transmissão se dá através de líquidos corpóreos (saliva, fezes, urina) contaminados, a prevenção passa por evitar o contato com estes líquidos. “Saneamento básico, inclusive nas praias, evitar bebidas em veraneios de origem duvidosa e até mesmo pedras de gelo de origem duvidosa, isolar os objetos das pessoas infectadas que possam contar seus conteúdos líquidos contaminados: tecidos (toalhas), talheres, copos e evitar o contato como o beijo”, pontua.
Janotti informa que a transmissão da hepatite A pode ocorrer também por contato sexual, de todas as formas (oral, vaginal, anal). A testagem se dá através da pesquisa de anticorpos da fase aguda (IgM) específicos para HAV (teste anti-HAV). “Não existe tratamento específico além de suporte. Felizmente, esta hepatite hoje é prevenível por vacina que está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e faz parte do calendário vacinal das crianças. Raramente a hepatite A é grave (fulminante), podendo levar à morte se não manejada adequadamente e até mesmo com transplante de fígado”, diz o médico.
A hepatite B é causada pelo vírus HBV, conforme Janotti. A transmissão se dá através de contato íntimos de componentes do corpo - sangue e sêmen. Ele explica que o contágio também acontecia por transfusão sanguínea, que cessou após os testes de triagem dos bancos de sangue. “O vírus persiste por dias em materiais contaminados com sangue. A apresentação clínica aguda não difere das outras hepatites, mas tem chance de cerca de 10% se tornar crônica, ou seja, o vírus persiste nas células hepáticas, causando ou não inflamação e podendo ser transmitido”
Para o especialista, as pessoas que se contaminam com o vírus da hepatite B são candidatas a tratamento e acompanhamento médico por toda a vida, mesmo com controle da infecção por conta da chance, mesmo com o vírus controlado, de evolução para câncer do fígado, doença grave. “Se não há tratamento adequado, a evolução é para cirrose hepática e câncer no fígado, o tratamento então passa a ser o transplante de fígado. Felizmente há a vacina que também está disponível no sistema público e também faz parte do calendário vacinal das crianças”, reforça.
Sobre a hepatite C, Janotti pontua que é causada pelo HCV, semelhante ao HBV em termos de transmissão e comportamento clínico, porém diferencia-se na chance de se tornar crônica, que é maior que 80%. “No entanto, hoje há tratamentos eficazes com chances de cura de mais de 95%. Os tratamentos estão disponíveis no SUS. O teste diagnóstico inicial é o anti-HCV, no sangue”, completa.
Já a hepatite D é causada pelo vírus HDV. Segundo o Ministério da Saúde, a hepatite D, também chamada de Delta, está associada com a presença do vírus B da hepatite (HBV) para causar a infecção e inflamação das células do fígado. Quando crônica, a hepatite D é considerada a forma mais grave, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, câncer e morte.
A respeito da hepatite E, o Janotti expõe que o vírus que causa a doença tem o comportamento semelhante ao tipo A, de todos os modos, exceto pela prevenção com vacina que até o momento não existe. “E também na diferença de localidades, não há nas Américas. É própria da Ásia”, ressalta.
Atendimento
O diagnóstico das hepatites A, B,C e D pode ser fechado nas Unidades de Saúde da Família (USFs) e também no Núcleo Henfil. De acordo com Janotti, como a Hepatite E não ocorre no Brasil, o diagnóstico ocorre somente em laboratórios de pesquisa. “Mas em caso de suspeita, por exemplo de alguém que veio de outro país, em geral da Ásia, com ocorrência da doença, é possível solicitar o exame através do Laboratório Central do Estado (Lacen), após a passagem pela unidade de saúde ou hospital público”, finaliza.