Acolher os estudantes, buscar a aproximação com as famílias e qualificar os profissionais da educação são algumas das ações necessárias para enfrentar o problema da violência no ambiente escolar. Especialistas ouvidos nesta quarta-feira (8) em audiência pública da Comissão de Educação (CE), contudo, apontaram que o aumento de casos de agressões nas escolas é um reflexo de problemas de toda a sociedade e reconheceram que o desafio é grande.
O aumento da evasão escolar durante a pandemia-19, o atraso nos conteúdos, a violência em geral na sociedade, o aumento do desemprego e a volta da fome ao patamar dos anos 1990 são alguns dos fatores que impactam também no aumento das tensões em sala de aula de acordo com especialistas. A palavra acolhimento foi repetida por todos os participantes da audiência, mas como acolher os estudantes? O presidente da Comissão do Plano de Urgência para Paz nas Escolas Públicas do DF, Tony Marcelo, afirmou que é preciso debater e dialogar com os jovens para entender suas necessidades e problemas. Ele apontou que o papel social da escola deve ser fortalecido e afirmou que não dá para pensar na violência de forma isolada.
— A escola nada mais é que o reflexo de uma sociedade que apresenta problemas agudos. O aumento da fome é claro que nós sabemos que essa fome atinge no processo educativo e atinge também no processo de violência, não só escolar.[...] Fortalecer o papel social da escola neste momento é criar vínculos — apontou.
Igor Pipolo, especialista em segurança pública nas escolas, reforçou que as estratégias de acolhimento podem variar conforme o contexto local, faixa etária e realidade da escola. Ele sugeriu uma análise de risco própria de cada escola para identificar os fatores que podem influenciar no cenário interno de violência.
— As escolas precisam oferecer condições mínimas para receber as crianças de forma adequada. Equipe mal preparada, ambiente que não é adequado e até o posicionamento geográfico da região da escola são fatores que podem influenciar. Segurança é prevenção e a prevenção não está necessariamente ligada a questões policiais, mas a um contexto de infraestrutura e de acolhimento — disse.
Pipolo também sugeriu atenção especial com as famílias e maior integração entre a casa e a escola, visão compartilhada por Denise Regina Maria Dias, coordenadora-geral do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do MEC. Denise defendeu medidas para reforçar o desenvolvimento socioemocional dos alunos e sugeriu ações integradas.
— Acolhimento, melhoria das aprendizagens, integração família e escola são ações que precisam caminhar de forma integrada. Escola, família e sociedade precisam trabalhar de forma integrada para que consigamos implementar ações que atendam às necessidades dos estudantes — disse.
Para o assessor Especial do Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Patrick Tranjan, o aumento da carga horária nas escolas, com tempo destinado a tutoria e escuta dos alunos, é um dos caminhos para driblar o problema da violência no ambiente escolar. Ele também ressaltou a necessidade de garantir uma atenção especial à saúde mental dos profissionais de educação responsáveis pela educação dos jovens.
— A pandemia teve impacto na saúde mental dos profissionais de educação. Temos 250 mil profissionais em São Paulo e temos que cuidar das emoções e da cabeça desses profissionais — acrescentou.
Pesquisa feita pela Associação dos Professores do Estado de São Paulo aponta uma escalada da violência nas unidades de ensino. Em 2019, mais da metade dos professores (54%) disseram já ter sofrido algum tipo de agressão. Entre os estudantes, em 2019, 81% relataram saber de episódios de violência na própria escola. Os senadores Confúcio Moura (MDB-RO) e Wellington Fagundes (PL-MT) alegaram que a sensação é que a situação piorou com a pandemia de covid-19 e sugeriram a realização do debate.
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