A energia elétrica tem sido, cada vez mais, vista pelo mercado como um assunto interligado com a sustentabilidade. Principalmente, por sua relação direta com as mudanças climáticas. Os processos de geração e consumo elétrico são responsáveis por 36% das emissões globais de gases de efeito estufa e, além disso, dependem de recursos naturais em boa parte dos casos, como as usinas hidrelétricas e eólicas. O dado faz parte da pesquisa “Global Energy Review: CO2 Emissions in 2021”, feita pela International Energy Agency (IEA).
Segundo o recém publicado relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), da ONU, o Brasil terá fases de estiagem cada vez mais frequentes nos próximos anos, sobretudo no Nordeste. A região sofreu ao menos um mês de seca a mais entre 2010 e 2019, em comparação com o período de 1950 a 1959, o que afeta a questão energética nacional.
Paradoxalmente, diversas localidades da América do Sul sofrerão com o excesso de chuvas – enfrentando eventos climáticos extremos, além de problemas associados, como o colapso da infraestrutura e a interrupção do fornecimento de energia. Ainda segundo a pesquisa do IPCC, um aumento de 1,5º C acima do nível pré-industrial (previsto para acontecer até 2030) resultaria no acréscimo de 100% a 200% na população afetada por inundações na Colômbia, no Brasil e na Argentina, 300% no Equador e 400% no Peru. No Brasil, os riscos mais frequentes são previstos para a Região Norte, incluindo Estados como Pará, Acre e Rondônia.
“Tais dados reforçam que não há como pensar em segurança energética para os países sem levar em conta a sustentabilidade, dentro da agenda ESG. Ao compreendermos que o acesso à eletricidade é a base para o desenvolvimento humano hoje em dia, enfrentamos desafios que ficam cada vez maiores com o passar dos anos em virtude das mudanças climáticas, ampliando a pobreza energética e dificultando o acesso à energia em comunidades carentes em regiões mais remotas”, afirma Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para América do Sul.
O IPCC também aponta que, nos próximos oito anos, 132 milhões de pessoas (especialmente de países mais vulneráveis, incluindo regiões da América do Sul) podem cair na extrema pobreza.
Por isso, na visão do executivo, investir na eficiência energética, geração distribuída, matrizes renováveis e no acesso à energia se tornam passos cruciais. “Buscar a universalização do fornecimento deste recurso para a população, é essencial para apoiar uma transição justa, como preconizado pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 7 das Nações Unidas, necessariamente congregando esforços do poder público e do setor privado”, diz.
Segrera aponta que, para resolver esta questão, é essencial combinar tecnologias existentes com disrupção, em um conceito denominado Electricity 4.0 (Eletricidade 4.0), que consiste na integração total da geração, distribuição e uso/consumo da eletricidade com “zero desperdício, zero emissões ou zero carbono”. Neste contexto, ele explica ser fundamental o avanço das redes inteligentes (ou smart grids), permitindo ampla gestão, controle e melhoria dos serviços prestados por parte das distribuidoras. Do ponto de vista do consumidor, ele explica que haverá a possibilidade de tornar-se um “prosumidor”, com liberdade de escolher seu fornecedor, gerar sua própria energia, gerenciar seu consumo e tomar decisões que permitam ter o menor custo possível.
Segundo o “Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2031” – divulgado pelo Ministério de Minas e Energia neste ano –, a capacidade instalada deve aumentar de 200 GW em 2021 para 275 GW em 2031. Deste total, 83% serão de fontes renováveis, enquanto apenas 46 GW, ou 17%, serão oriundos de fontes não-renováveis.
Estas previsões reforçam os compromissos assumidos pelo País no último ano, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) por meio de sua contribuição nacional determinada (NDC), que propõem a redução de 50% das emissões de GEE até 2030 e a neutralidade climática até 2050.
“Combinado aos compromissos sustentáveis, de acordo com o PDE, nos próximos dez anos, a proposta de investimentos em energia deve chegar a R$ 3,25 trilhões. Essa integração entre eletricidade e ações que favoreçam o meio ambiente pode ser o ponto-chave para diminuir as consequências causadas pelas mudanças climáticas”, pontua Segrera.
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