As criptomoedas estiveram entre os ativos mais valorizados ao longo da pandemia de Covid-19, com alta superior a 400%. No ano passado, o valor do bitcoin (a criptomoeda mais popular do mundo) saltou 255%, indo de US$ 9.350 (R$ 50,62) em janeiro para US$ 33.114 (R$ 179,29) no fim do ano. No começo de 2021, em menos de três meses, esse valor quase dobrou, para US$ 59 mil (R$ 319,44 mil), antes de cair em maio para baixo de US$ 34 mil (R$ 184,09 mil), e, atualmente, para US$ 20.662,48 (R$ 111,87).
“Essa queda acentuada demonstra que as flutuações de valor do bitcoin costumam ser ‘violentas’, tanto para cima, quanto para baixo; mas os motivos que determinam esta volatilidade são menos claros para analistas de mercado, cuja precaução se faz alerta”, afirma o especialista e analista econômico Dr. Felício Rosa Sammarco Valarelli Jr.
Valarelli é mestre em administração e economia, atuou como pesquisador acadêmico e palestrante nas temáticas de blockchain, criptomoedas e comportamento de consumo, sendo um dos fundadores do grupo de pesquisa Blockchain. “Com a grande alta na cotação dos bitcoins no final do ano passado, e a forte queda neste segundo semestre, oscilações parecem fazer parte do mercado econômico das criptomoedas”, articula.
“No final de 2021, diversas notícias sobre criptomoedas circularam na mídia, sobretudo de Bitcoins, a primeira moeda digital descentralizada. A moeda, que surgiu em 2009, não valia nem US$ 0,01 (R$ 0,054). Em 2010, valia cerca de US$ 0,39 (R$ 2,11). Sete anos mais tarde, a moeda alcançou seu maior valor, US$ 19.551 (R$ 105,85), em dezembro de 2017”, reporta o especialista. No entanto, avança, logo após a alta do ano passado, 2021 não foi favorável para a valorização da criptomoeda. Atualmente, 1 BTC (ou XBT, ambas siglas para Bitcoin) vale cerca de US$ 20.662,48 (R$ 111,87)”, complementa.
Na análise de Valarelli, as criptomoedas vêm enfrentando uma espécie de crise de identidade nos últimos anos que tem sido determinante na volatilidade recente desses ativos. “A volatilidade nos preços das principais criptomoedas do mundo vem deixando muitos investidores preocupados sobre o momento do mercado”.
O analista econômico chama a atenção para a crise enfrentada pela Celsius Network, plataforma de empréstimos e serviços financeiros com criptomoedas, que travou saques de mais de 100 mil usuários. A plataforma entrou com o pedido de falência no dia 13 de julho. Segundo Valarelli, a crise provocou aumento de um pessimismo já existente no mercado cripto, influenciado de forma negativa pelo contexto macroeconômico global, desde o início do ano, e pelo colapso do protocolo Terra, em maio.
“Com o bloqueio dos saques e as suspeitas de insolvência, a plataforma [Celsius Network], que chegou a ter US$ 20 bilhões (R$ 108,29 bilhões) sob sua gestão, ‘empurrou’ o mercado ainda mais para baixo”, explica. “Com o pedido de falência, a situação dos investidores e usuários da plataforma fica ainda mais delicada, e um novo impacto negativo no mercado não pode ser descartado”, conjectura.
O advogado destaca que a criptomoeda CEL, usada pela Celsius Network para oferecer vantagens aos usuários, chegou a cair quase 60% no dia 14 de julho, depois que a empresa entrou com pedido de falência nos EUA. Desde a sua máxima, em junho de 2021, o ativo já perdeu quase 93% do valor. Apenas em 2022, a queda acumulada chega a 85%.
“Na terça-feira, antes da divulgação do pedido de falência, a criptomoeda era negociada a cerca de US$ 0,95 (R$ 5,14). Após a notícia, chegou a despencar para US$ 0,45 (R$2,44) Agora, o ativo busca recuperação e troca de mãos a US$ 0,65 (R$ 3,52), com queda de 12% nas últimas 24 horas”, explica, citando dados do Coin Market Cap.
A possibilidade de que a criptomoeda [CEL] ainda tenha valor se deve ao fato de que o pedido de falência não significa que a empresa deixará de existir, mas que, efetivamente, busca suporte legal para lidar com as dívidas existentes, complementa Valarelli.
Crise das criptomoedas exige diversificação de carteira
Para o analista econômico, momentos de crise como esse, em torno das criptomoedas, reforçam a importância da diversificação de investimentos para evitar que os investidores percam todo o seu dinheiro. “Momentos de crise evidenciam a necessidade de redobrar o cuidado na utilização de plataformas que oferecem serviços financeiros com criptoativos, já que se trata de um modelo de negócios recente, sujeito a problemas ainda não vivenciados, e que não possuem forte regulação como o mercado financeiro tradicional”, ressalta.
Valarelli afirma que os dados sobre a inflação norte-americana têm efeito imediato não apenas nas criptomoedas, mas em diversos setores da economia e, em especial, em mercados de risco. Isso acontece porque a resposta quase inevitável de bancos centrais ao aumento da inflação é elevar as taxas de juros.
“No caso do mercado cripto, o pessimismo se baseia em fatores que vão além dos dados macroeconômicos, como inflação e juros dos EUA. A desaceleração do crescimento do mercado, aliada às demissões em massa nas maiores empresas do setor, somada à quebra de fundos, protocolos e empresas relacionadas às criptomoedas, tem puxado os preços ainda mais para baixo”, diz ele.
Diante desses fatos, na visão de Valarelli, as moedas digitais são um ativo de risco. “É importante evitar realizar a perda, vendendo criptomoedas no momento de baixa. É possível que elas venham a se recuperar. Além de não colocar mais de 20% do seu patrimônio nesse tipo de ativo”, conclui.
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