A Copa do Mundo FIFA 2022, no Catar, reúne dois importantes ingredientes: a paixão pelo futebol e a inovação – bastante prestigiada desde que a ONU (Organização das Nações Unidas) a incluiu entre os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável para 2030. A globalização e o aumento da competitividade levaram o futebol a se reinventar, e obrigaram federações e clubes a desenvolverem ideias, ferramentas e procedimentos inovadores para que esta continue sendo a modalidade esportiva mais popular do mundo, alcançando e mantendo sustentabilidade social e econômica. Da mesma forma que o futebol aplicou modelos de negócio testados na iniciativa privada, sua transformação bem-sucedida também pode inspirar muitas empresas a se reinventarem.
Aproximadamente 270 milhões de pessoas estão ativamente envolvidas no futebol, levando a um impacto econômico e social bastante relevante. Do ponto de vista da inovação empresarial, o futebol profissional atua num ambiente altamente competitivo, com pressões constantes para que se descubra e explore novas oportunidades de crescimento e chances de vitória nas competições. Esse acirramento de ânimos é muito comum, também, no mundo corporativo – principalmente nos segmentos da economia em que a conquista de um ponto percentual a mais do marketshare é motivo de comemoração.
Essa competitividade é uma das razões pelas quais o futebol deve envolver mudanças e inovações constantes. De acordo com o consultor Rodrigo Miranda, diretor de operações da consultoria internacional G.A.C. Brasil, é possível aplicar o conceito dos cinco pilares do ecossistema da inovação – liderança, estratégia, cultura, gestão e processos – também na indústria do futebol profissional.
“A primeira missão de líderes e gestores é definir o ponto de partida e o objetivo final, para que se possa traçar uma estratégia eficiente e garantir um ambiente interno colaborativo”, afirma o especialista em inovação. “Nesse processo, cabe aos gestores identificarem quais as barreiras internas impedem o atingimento dos objetivos propostos, atuando para eliminá-las ou reduzi-las, bem como identificarem os aceleradores da inovação que deverão ser fortalecidos”.
Como esporte de massa, a imersão na cultura do futebol pode contribuir para que os clubes estabeleçam parcerias, montem seus elencos pesando investimentos individuais e coletivos, usem a tecnologia para estudar o mercado e os adversários, e pesquisem hábitos dos torcedores – gerando receita com tudo o que esteja relacionado ao clube do coração.
Segundo Miranda, conforme a cultura da indústria do futebol é esmiuçada, a estratégia de inovação vai ficando ainda mais clara e alinhada com a estratégia de crescimento do clube, identificando se há necessidade de desenvolver melhor as lideranças, se é urgente uma transformação cultural dentro da organização, ou ainda se é preciso trabalhar mais na melhoria de processos.
Por conta disso, novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas e incorporadas ao ecossistema de inovação no futebol, buscando melhorar o condicionamento físico e a recuperação dos atletas – expostos a jogos cada vez mais exigentes física e emocionalmente; compreender as diversas variáveis relacionadas a cada partida e aos hábitos de consumo dos torcedores; regulamentar as partidas, evitando que falhas humanas comprometam os resultados, entre outros.
Exemplo disso é que, pela primeira vez numa Copa do Mundo, será usado um sistema semiautomático envolvendo inteligência artificial (IA) para marcar impedimentos. Com câmeras no estádio contando com recursos de machine learning para filmar e rastrear pontos dos corpos dos jogadores durante toda a partida, espera-se reduzir o tempo do VAR (assistente de vídeo) e elevar a precisão do recurso a outro patamar.
Além disso, a bola terá um chip de geolocalização sensível ao toque, permitindo que as informações do posicionamento e momento do chute sejam enviadas a um software que também será acessado pelos operadores do VAR como forma de alerta. O objetivo é que, em questão de segundos, todas essas informações permitam que os árbitros em campo possam tomar melhores decisões.
O público poderá acompanhar os lances pelas imagens em 3D exibidas nos telões do estádio, com muita transparência. Outra novidade desse evento mundial é o uso de IoT (internet das coisas) nas camisetas usadas pelos jogadores. Isso será possível com a instalação de microssensores no tecido – que emitirão informações como temperatura do corpo, nível de estresse, respiração, hidratação e outros sinais vitais importantes. O objetivo é gerar insights para a equipe técnica repensar as táticas de jogo de acordo com as informações recebidas.
Mais um ponto importante é que lidar com as altas temperaturas do Oriente Médio não é tarefa fácil. Por isso, uma das tecnologias empregadas é a nuvem artificial – formada por drones que, ao sobrevoar o estádio, devem dispersar um composto de hélio, formando nuvens para encobrir os raios solares. Além de reduzir o calor, essa medida deve atenuar a incidência dos raios solares sobre os presentes.
“Quando se analisa o futebol com uma visão superficial, acredita-se não haver grandes necessidades de mudanças, até mesmo por ser um esporte já consolidado mundialmente. Mas, tendo em vista essas e outras inovações, constata-se que os clubes e associações profissionais estão sempre buscando soluções que ampliem positivamente seus resultados”, enfatiza Rodrigo Miranda. Na opinião do especialista, assim como no mundo empresarial, há o entendimento de que a tecnologia e estratégias inovadoras não são apenas um diferencial, mas sim algo imprescindível para o crescimento e sobrevivência de qualquer organização através dos anos.
Miranda diz que uma das principais maneiras pelas quais a inovação altera a cultura de uma sociedade é através de mudanças disruptivas, que transformam as demandas e necessidades dos usuários e da sociedade. “Seja da perspectiva do esporte ou do ambiente empresarial, pode-se dizer que o melhor emprego da inovação é a criação de soluções que atendam e até mesmo antecipem as demandas desse mercado que está em constante transformação, gerando resultados concretos e mensuráveis”.