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Senado restaura e volta a expor primeira obra de arte vandalizada em 8 de janeiro

O Senado volta a expor na segunda-feira (30) a primeira de 14 obras de arte dentre as danificadas durante a invasão de criminosos que depredaram as...

27/01/2023 às 15h20
Por: Nathaly Guimarães Fonte: Agência Senado
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Nonato Nascimento atuou na restauração de "Trigal na Serra", de Guido Mondin: tela estava encharcada e arranhada - Jefferson Rudy/Agência Senado
Nonato Nascimento atuou na restauração de "Trigal na Serra", de Guido Mondin: tela estava encharcada e arranhada - Jefferson Rudy/Agência Senado

O Senado volta a expor na segunda-feira (30) a primeira de 14 obras de arte dentre as danificadas durante a invasão de criminosos que depredaram as dependências do Congresso Nacional no dia 8 de janeiro. O quadro “Trigal na Serra”, de Guido Mondin, retorna à Sala de Recepção da Presidência da Casa.

A peça em acrílico sobre eucatex mede 92 por 112 centímetros. Após os ataques, a tela, pintada em 1967, foi encontrada no chão, separada da moldura. Fragmentos de vidros quebrados durante a invasão e outros estilhaços provocaram arranhões e perda de policromia. A obra estava encharcada e empenada pela umidade, depois que os vândalos acionaram mangueiras e hidrantes de combate a incêndio.

O conservador Nonato Nascimento, do Laboratório de Restauração do Senado, foi o responsável pela recuperação da obra. O trabalho de higienização começou logo após os ataques, ainda na Presidência da Casa. Com uma trincha macia, Nonato removeu os primeiros fragmentos de vidro. Nos dias que se seguiram, uma série de procedimentos foi adotada para devolver o quadro ao estado original.

— Como ele ficou muito encharcado, no dia seguinte já tinha muito fungo. Borrifei uma mistura de álcool e água no fundo da tela, onde estava a maior parte dos fungos. Removi os esporos com um aspirador e uma escova macia. Coloquei a tela entre papéis mata-borrão para retirar a umidade e, depois, em uma prensa para planificar. Fiz a reintegração cromática nos locais onde houve danos e perda de policromia — explicou.

Nesta sexta-feira (27), quando se celebra o Dia Internacional do Conservador Restaurador, Nonato Nascimento falou sobre a emoção de trazer de volta à exibição pública uma obra tão importante para o acervo — e, agora, para a história — do Senado.

— Olha, essa parte é complicada... A gente cuida de todas as obras da Casa com muito carinho. Quando percebi o estado em que ela estava, foi chocante. É de arrepiar. Mas, quando terminei o trabalho de restauração, foi uma alegria no laboratório. Ela ficou linda de novo, está perfeita! — disse.

Quem também comemora a entrega “Trigal na Serra” é a coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Monteiro. Ela revela que a recuperação de outra peça danificada pelos invasores está prestes a ser concluída: uma cadeira do século XIX, usada no Salão Nobre para a recepção de autoridades estrangeiras.

— A entrega do quadro de Guido Mondin representa um marco na recuperação da destruição que a gente sofreu. É a primeira obra que fica pronta, depois de um sentimento de terra arrasada, um sentimento de guerra que a gente enfrentou. Essa entrega significa um passo em direção à normalidade — disse.

Segundo Maria Cristina Monteiro, ainda não há um cronograma definido para a restauração e a entrega de todas as obras danificadas. O custo total dos reparos pode chegar a R$ 1 milhão.

— Vai depender da avaliação de cada peça. A tapeçaria de Burle Marx será restaurada em São Paulo. O painel vermelho de Athos Bulcão pode levar de três a quatro meses. Fizemos uma parceria com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, que deve ceder servidores para auxiliar o restauro. O quadro de Gustavo Hastoy, “Ato de Assinatura do Projeto da 1ª Constituição”, vai precisar de um projeto específico, porque é muito grande, muito pesado e está chumbado na parede. Vamos precisar contratar um guindaste específico para retirá-lo. Cada peça tem uma história — explicou a coordenadora do Museu.

A chefe de Serviço de Gestão do Acervo Museológico do Senado, Lisiane Matte Bastos, lamenta os danos causados às obras de arte da Casa. Mas destaca que, após os ataques de 8 de janeiro, o quadro de Guido Mondin voltará a ser exposto em um lugar e em momento muito especiais.

— A gente assistiu a uma barbárie muito grande. Dá tristeza e desespero. A gente fica triste durante esse período, que deixou muitas marcas na história do Senado e do país. É um tempo de cicatrização. Mas, ao mesmo tempo, a gente fica feliz porque cicatrizou, porque está conseguindo restaurar as obras. O quadro vai ficar na Sala de Recepção da Presidência do Senado, para receber os novos parlamentares que tomam posse na quarta-feira (1º) — explicou.

Quem foi Guido Mondin

Guido Fernando Mondin nasceu em Porto Alegre (RS), em 1912. Foi pintor, economista, empresário, professor e político. Na vida pública, exerceu cargos de senador por dois mandatos (1959 a 1975), deputado estadual e federal, vice-prefeito de Caxias do Sul (RS) e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Mondin morreu em 2000, aos 88 anos.

O pintor doou vários de seus quadros ao Senado. Além de “Trigal na Serra”, compõem o acervo da Casa as seguintes obras: “Família de Retirantes”, “Frei Franciscano”, “Panorama Mineiro”, “Barcos”, “Marina em Capri”, “Figueira”, “Retrato do Dr. Isaac Brown”, “Os Arcos do Rio de Janeiro” e “Velha Roma”.

Guido Mondin produziu mais de 4 mil telas. Há obras dele expostas no Palácio do Planalto, na Casa Branca (Estados Unidos) e em países europeus. O pintor costumava retratar cenas do cotidiano do povo gaúcho, além de batalhas e heróis da Revolução Farroupilha. No entanto, as telas religiosas são as mais reconhecidas. É o caso de “Via Sacra”, doada à Igreja Matriz de Otávio Rocha (RS). Mondin foi fundador da Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas e membro da Academia Brasileira de Belas Artes.

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