O mês de março foi mais um mês de alta volatilidade nos principais mercados. No cenário local, houve a divulgação do esperado novo arcabouço fiscal. Mais detalhes do plano ainda serão divulgados, mas, com as informações disponíveis, já é possível um entendimento de seu pretenso funcionamento. Uma discussão importante que derivou dessa proposta do governo é a necessidade de aumento de arrecadação da ordem de pelo menos R$ 100 bilhões e, nesse contexto, que setores e empresas poderão ser impactados.
Fatores internos foram novamente preponderantes no comportamento dos ativos de risco. Na última reunião do COPOM, a taxa Selic permaneceu inalterada como esperado, porém o teor do comunicado e da ata vieram com tom mais duro que o previsto. Na seara fiscal, após a apresentação do novo arcabouço fiscal ao final do mês e uma reação inicial positiva do mercado, o consenso entre os investidores é de que será necessária uma alta significativa da carga tributária para que as metas do governo sejam atingidas.
Outro ponto-chave foi a divulgação da proposta da reforma tributária por parte do governo. A proximidade do fim do ciclo de aperto, por parte do FED, juntamente com a possibilidade de início de afrouxamento pelo BC brasileiro, pode criar um ambiente ideal para a alta das empresas de maior peso no Ibovespa. Todavia, o economista Felipe Bernardi Capistrano Diniz diz “estar pessimista com empresas de varejo e empresas com elevado nível de endividamento”.
O cenário internacional foi marcado pelas incertezas nos setores bancários americano e europeu. Apesar do cenário adverso, o S&P 500, que chegou a cair -2,4%, encerrou o mês com retorno positivo de 3,5%, puxado pelas empresas de tecnologia diante de um cenário de queda na expectativa da inflação longa americana que refletiu em juros longos mais moderados.
O Silicon Valley Bank, um banco de porte médio nos EUA, sofreu uma corrida bancária que levou rapidamente à sua insolvência. O mesmo aconteceu com o Signature Bank, um banco de menor porte. Os números sugerem que uma corrida bancária a esses dois bancos poderia ter desencadeado uma série de falências bancárias, prejudicando as pequenas empresas e a atividade econômica em muitas partes do país. Na sequência, um banco suíço de grande porte, que já vinha acumulando perdas ao longo dos anos, não resistiu à tensão e precisou ser absorvido por seu principal concorrente. Felipe Bernardi Diniz diz que “esses bancos estão localizados desproporcionalmente em comunidades de baixa renda, áreas com alto índice de populações negras e hispânicas e lugares onde poucos residentes têm um diploma universitário”. Ou seja, é pouco provável que as instituições financeiras maiores preencham de forma veloz qualquer lacuna de empréstimos nessas comunidades se os bancos menores falirem.
Eventos como esses são comuns durante processos de aperto monetário. Ao longo de décadas, praticamente todos os ciclos de elevação dos Fed Funds provocaram falências bancárias, colapso de fundos de investimento, ou mesmo de mercados ou países inteiros.
Para Felipe Bernardi Diniz, “a tensão parece estar diminuindo na medida em que, na ausência de extensão do seguro de depósitos à vista para valores acima de US$ 250 mil, mais depósitos sigam deixando os bancos pequenos e médios em direção aos fundos de money market, ou ao caixa dos bancos maiores”. O volume recuou mais de US$ 100 bilhões, para US$ 5,46 trilhões na semana encerrada em 15 de março – a maior redução desde março de 2007.
Como consequência destes eventos, reguladores americanos têm adotado medidas de emergência para conter a hemorragia de depósitos e garantir liquidez aos bancos. Também foi iniciado um processo de revisão da supervisão e regulamentação do setor, cujos resultados serão divulgados até 1º de maio.
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