A Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou nesta quinta-feira (11), por 17 a 1, a indicação enviada pelo Executivo propondo o nome do diplomata Christian Vargas para ser embaixador do Brasil em Cuba.
— É certamente uma missão muito desafiadora, seja pelo perfil político do posto, pela abrangência e complexidade da agenda entre os dois países, pelo amplo potencial a ser desenvolvido [...] ou ainda pelas dificuldades que Cuba atravessa no momento, com o desabastecimento de alimentos, de medicamentos e de energia — afirmou o sabatinado.
O relatório favorável do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) a MSF 21/2023 segue agora para o Plenário. O texto foi lido na CRE pelo relator ad hoc, o senador Chico Rodrigues (PSB-RR).
Christian Vargas disse na sabatina que, a partir de 2016, as relações entre Brasil e Cuba “perderam impulso e passaram por um crescente esfriamento”, que teve como consequências a interrupção de cooperação técnica e perdas no comércio.
Ele prometeu trabalhar pela normalização das relações bilaterais “voltando a desenvolver o pleno potencial da cooperação, do comércio, dos investimentos e dos intercâmbios de toda ordem”.
O indicado registrou também que Cuba ainda deve cerca de US$ 1 bilhão ao Brasil. Porém, o governo cubano já sinalizou que quer equacionar essa dívida, segundo o diplomata. Em 31/01/2023, o montante em atraso com o Brasil era da ordem de US$ 490 milhões. Já o saldo devedor, referente a parcelas vincendas até 2038, é de cerca de US$ 590 milhões.
— O equacionamento da dívida é de total interesse do governo brasileiro e do governo cubano, que não terá nenhum crédito adicional do Brasil enquanto não equacionar a dívida e já deu sinais de que quer resolver essa questão.
Segundo o indicado, Cuba vem passando por modificações importantes após a sua última Constituição, que passou por referendo em 2019. Citou a abertura para a iniciativa privada, com cerca de seis mil empresas abertas naquele país. O turismo bastante abalado durante a pandemia continua , acrescentou, sendo a principal fonte de recursos do país.
Ministro de primeira classe do Itamaraty, Christian Vargas nasceu em Porto Alegre (RS), tem 55 anos e formou-se em letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em 1990. Fez cursos de especialização na Universidade de Harvard (1999) e no Collège d’Europe, na Bélgica (2000).
Começou na carreira em 1994, tendo chegado a ministro de primeira classe em 2021. Foi ministro-conselheiro nas embaixadas em Washington (2015-2018) e Moscou (2018-2020) e chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Minas e Energia (2020-2022). Dirigiu ainda a Coordenação-Geral da Organização dos Estados Americanos (2022-2023). Esse ano passou a ser diretor do Departamento de Integração Regional da OEA.
A Ilha de Cuba, a principal do país, é a maior do arquipélago das Antilhas e está a 366 km dos Estados Unidos. É o segundo país mais populoso do Caribe depois do Haiti.
“Desde 1959, ano da revolução liderada por Fidel Castro, o país vive sob modelo econômico de viés socialista, que foi formalmente anunciado com a adesão de Cuba, em 1961, ao marxismo-leninismo. Trata-se de país multiétnico cujo povo, cultura e costumes derivam de diferentes origens e influências. Por conta da ascendência africana de parte expressiva da população, a cultura cubana possui muito em comum com a brasileira”, diz Randolfe no seu relatório.
Brasil e Cuba estabeleceram relações diplomáticas em 1906, ano em que foi criada a delegação brasileira em Havana. Em 1964, com o golpe militar no Brasil, as relações foram interrompidas e só foram restabelecidas com a redemocratização, em 1986, no governo Sarney.
Nos dois primeiros mandatos do presidente Lula (2003-2011) as relações entre os dois países se aprofundaram de maneira inédita, com vários projetos de cooperação técnica, incremento do comércio bilateral e participação brasileira em obras de infraestrutura na ilha, como a participação brasileira nas obras do Porto de Mariel e a presença de médicos cubanos no Programa Mais Médicos.
As relações foram muito afetadas depois do impeachment de Dilma Rousseff, o que impactou o comércio bilateral, que caiu de US$ 620 milhões, em 2012, para US$ 182,5 milhões, em 2021. Os produtos mais exportados para Cuba foram gorduras e óleos vegetais (33%), arroz sem casca ou semielaborado (17%), carnes de aves e miudezas comestíveis (13%), milho não moído (5,9%), açúcares e melaços (5,3%), produtos da indústria de transformação (4,4%), tubos e perfis ocos e acessórios para tubos de ferro ou aço (4,2%), e café não torrado (2,5%).
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