A Comissão de Relações Exteriores (CRE) aprovou nesta quinta-feira (22) a indicação da diplomata Silvana Polich para a chefia da embaixada brasileira na Croácia. Com relatóriofavorável da senadora Margareth Buzetti (PSD-MT), a indicação ( MSF31/2023 ) foi aprovada por 14 votos a favor e nenhum contrário e segue agora para votação no Plenário do Senado.
Para a diplomata, que é filha de refugiados da antiga Iugoslávia — país que originou a Croácia —, o fato de ter relação cultural tanto brasileira quanto croata vai favorecê-la na gestão da embaixada. Silvana também discorreu sobre as semelhanças entre os países.
— [Meus pais] legaram-me eles o amor e respeito incondicional pelo Brasil, mas também curiosidade de suas terras de origem. Além do conhecimento do idioma servo-croata, minha língua materna. Brasil e Croácia têm valores semelhantes. Defesa da democracia, dos direitos humanos, da resolução das contendas internacionais por meio do direito internacional... Esses valores devem ser protegidos — disse a diplomata.
Margareth Buzetti lembrou que os dois países possuem uma relação bilateral de cordialidade e cooperação desde o reconhecimento da independência da Croácia pela União Europeia, em 1992. Mas, para a senadora, a diplomacia pode ser aprofundada.
— Percebe-se expressivo sentimento de empatia bilateral à vista da circunstância de que ambos os povos nutrem gostos semelhantes, entre outras manifestações culturais, por futebol e música — disse a relatora.
Os parlamentares questionaram Silvana sobre sua posição com relação à guerra na Ucrânia, deflagrada em fevereiro de 2022 com a invasão da Rússia no território ucraniano. O senador Esperidião Amin (PP-SC) lembrou que a Croácia tem rígida postura contrária à Rússia, enquanto o Brasil possui posição mais conciliatória. Para Silvana, a diferença de postura não afetará a relação entre Brasil e Croácia.
— Esses países do Sudeste Europeu [caso da Croácia], que estão mais próximos do conflito, têm um temor maior. No entanto, a posição brasileira é de que condena a invasão, mas abre-se para o diálogo. Considero que é possível o Brasil conversar, desde que haja entre o Brasil e a Croácia respeito entre interlocutores e suas posições — disse Silvana.
Silvana explicou que adotará cinco eixos prioritários no comando da embaixada brasileira em Zagreb, capital croata, relacionados com comércio, relações políticas, educação, cultura e promoção da imagem do Brasil.
Um dos eixos prioritários no plano de Silvana é a promoção no comércio e investimento entre os países, que pode ocorrer por meio de eventos e feiras comerciais.
Segundo a diplomata, o Brasil tem o apoio croata na articulação para concluir o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE), fechado em 2019, mas cuja ratificação não avançou desde então em razão de exigências adicionais apresentadas pela EU.
— [Eles são] totalmente favoráveis à adesão do Mercosul, já tendo se colocado à disposição para serem um interlocutor nosso. Temos um país amigo nesse sentido — respondeu Silvana em resposta ao senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
O senador Chico Rodrigues (PSB-RR) indagou sobre a perspectiva de o Brasil aumentar suas exportações de produtos de valor agregado, em contraponto às commodities. Produtos como açúcar de cana, minério de ferro, café cru em grão e tabaco são grande parte das vendas brasileiras aos croatas. Por outro lado, a Croácia vende produtos de maior valor agregado para o Brasil, como turbinas de aviação e medicamentos, incluindo veterinários.
Segundo Silvana, o Brasil tem oportunidade de mudar o perfil de suas exportações ao país se observar o forte setor do turismo na Croácia, que é responsável por cerca de 20% do produto interno bruto (PIB). Mas para isso, é preciso criatividade, avaliou:
— O Brasil precisa (e creio que os senhores parlamentares podem nos ajudar) mudar um pouco a pauta de exportações brasileiras. Mas temos que ter criatividade. A rede hoteleira daquele país é muito grande. A embaixada do Brasil já fez alguns eventos com produtos nossos com valor agregado, de elementos como açaí... Precisamos realmente avançar lá. É dever da embaixada estar presente, detectar e abrir esse caminho — afirmou.
Silvana ainda apontou a importância da entrada da Croácia na UE, na zona do euro e no espaço Schengen, que permite locomoção entre os países signatários sem passar por controle fronteiriço. Esses eventos, ocorridos em janeiro deste ano, geram uniformização tributária e facilitam o comércio com o Brasil.
Silvana também apontou como eixo prioritário a intensificação das relações políticas bilaterais, como pela atuação de grupos parlamentares de ambos os países. Ela espera que o grupo parlamentar Brasil-Croácia, criado pela Resolução 8 de 2003, na Câmara dos Deputados, faça mais visitas ao país.
Outra ação proposta pela diplomata foi a realização de visitas ao Brasil pelo presidente Zoran Milanovic, pelo primeiro-ministro Andrej Plenkovi? e pelo ministro do Exterior Gordan Grli?-Radman, além de outras autoridades. Silvana lembrou que o governo já fez o convite em viagem do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em fevereiro deste ano à Croácia.
A terceira prioridade exposta por Silvana é a promoção da imagem do Brasil "para além dos estereótipos". Para isso, a sabatinada aposta na divulgação cultural.
— É importante a promoção de filmes brasileiros, porque constitui vetor crucial de promoção cultural. Também [é importante] a participação em festivais culturais. A Croácia, sobretudo Zagreb, vem se transformando em centro cultural no Sudeste Europeu, que atrai público não apenas local, mas internacional — disse.
O quarto eixo do planejamento da indicada trata de investimentos em ciência, tecnologia e inovação. A diplomata mencionou que atuará buscando acordos entre universidades de ambos os países.
O quinto e último eixo prioritário mencionado pela sabatinada é a cooperação em educação, cultura, saúde e defesa entre os países. Silvana citou que intercâmbios acadêmicos serão o foco das parcerias entre instituições de ensino superior.
A Croácia é uma república parlamentarista unicameral que declarou sua independência da ex-Iugoslávia em 1991. Com uma população de aproximadamente 4 milhões de pessoas, sua principal atividade econômica é o turismo. No ano passado, houve crescimento do número de turistas brasileiros no país, calculado em 43 mil. A comunidade brasileira residente, no entanto, é de apenas 400 pessoas.
Na esfera comercial, as trocas entre os dois países alcançaram a cifra de US$ 127 milhões de dólares O valor é considerado modesto pela sabatinada, aquém do recorde histórico de US$ 216 milhões de dólares registrado em 2013.
Silvana Polich nasceu em São Paulo, em 1954, filha de refugiados. Formou-se em jornalismo e direito pela Universidade de São Paulo nos anos 70, dando início aos seus estudos no Instituto Rio Branco em 1981. Ocupa função de ministra-conselheira na embaixada em Budapeste (Hungria) desde 2020, após ter exercido a mesma atividade nas embaixadas no Vaticano, Berlim (Alemanha) e Oslo (Noruega).